Resistencia

domingo, 7 de dezembro de 2014

Fósseis em outro meteorito de Marte?

Cientistas da Nasa dizem ter encontrado possíveis sinais de vida em outro meteorito marciano. Ao estudar uma pedra encontrada na Antártida por uma equipe japonesa, eles apontam a existência de minitúneis e pequenas esferas enriquecidas em carbono — possivelmente geradas por atividade biológica microbiana no planeta vermelho.


O trabalho em tudo lembra afirmação semelhante feita por pesquisadores da agência espacial americana em 1996, depois de analisar o meteorito ALH 84001. Naquela ocasião, eles publicaram na “Science”, com toda pompa e circunstância, um estudo categórico sobre possíveis fósseis marcianos.
A similaridade não é coincidência. O novo estudo tem entre seus autores alguns dos membros da equipe antiga — gente que nunca se convenceu de que não haviam encontrado sinais de bactérias marcianas, mesmo depois que outros pesquisadores mostraram que suas descobertas podiam ter origem não-biológica.
O pedregulho da vez é o Yamato 000593, encontrado pelos japoneses em 2000, e cedido para estudo aos americanos. Ele tem 1,3 bilhão de anos de idade e foi ejetado de Marte por um impacto de asteroide. Depois de vagar pelo espaço por 12 milhões de anos, ele caiu na Antártida cerca de 50 mil anos atrás. É uma pedra vulgar de 13,7 quilos, tão desinteressante à primeira vista quando o ALH 84001. Só que são dois pedaços de Marte.


Imagem do meteorito achado na Antártida pelos japoneses. O dado tem 1 cm de aresta.
ATIVIDADE BIOLÓGICA?
“Não podemos excluir a possibilidade de que as regiões ricas em carbono em ambos os conjuntos de marcas [do Yamato 000593] sejam produto de mecanismos abióticos; entretanto, similaridades de textura e composição a traços em amostras terrestres que foram interpretadas como biogênicas sugerem a possibilidade intrigante de que as marcas marcianas tenham sido formadas por atividade biológica”, escreveram os pesquisadores liderados por Lauren White, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em artigo publicado na edição de fevereiro do periódico “Astrobiology”.
Trocando em miúdos, os cientistas dizem o seguinte: se fosse uma pedra da Terra, ninguém teria dúvida em dizer que os sinais são trabalho de formas de vida. Como é uma rocha de Marte, todo mundo fica ressabiado.
E com razão. Como dizia o saudoso Carl Sagan, “afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”. Vida na Terra é banal. Vida em Marte é possivelmente a maior descoberta da história da ciência. Embora com o Yamato 000593 já sejam três os meteoritos marcianos conhecidos a ter sinais suspeitos de vida — e é bom que se diga que não foram encontradas marcas similares em meteoritos provenientes de outros lugares do espaço –, não existe no momento informação suficiente para cravar que são de fato fósseis. Ou que não são.
É apenas mais uma das inúmeras peças necessárias para montar o intrincado quebra-cabeça que é o passado marciano. Muitas vezes, as diferentes evidências parecem não se encaixar umas nas outras. Por exemplo, a detecção de carbono em boa quantidade no meteorito contrasta com a dificuldade do jipe Curiosity em detectar compostos orgânicos no solo do planeta vermelho. O veículo também fracassou em detectar metano na atmosfera, depois que a sonda orbital europeia Mars Express indicou que ele deveria estar lá em quantidade mensurável.
Além disso, uma coisa é afirmar que Marte teve vida 4,1 bilhões de anos atrás (idade do meteorito ALH 48001, do estudo de 1996), numa época em que o planeta sabidamente era molhado, e outra é dizer que bactérias também estavam por lá 1,3 bilhão de anos atrás (como sugere o meteorito Yamato 000593), quando aquele mundo já devia ser bem seco. Caso as novas descobertas sejam mesmo evidências de vida, é possível que ela esteja proliferando por lá até hoje, com toda probabilidade no subsolo do planeta vermelho.
Ao que tudo indica, só teremos respostas definitivas sobre vida em Marte quando alguma agência espacial tiver a coragem de bancar custosas missões de retorno de amostras, de forma que os cientistas possam estudar uma rocha cuidadosamente escolhida e livre de contaminação terrestre, em vez de ter de trabalhar com pedregulhos arremessados aleatoriamente de lá que calharam de cair por aqui.