A Batalha de Los Angeles completa 70 anos.
Esta matéria está categorizada como Cultura, apesar de referir-se a uma histórica batalha travada em Los Angeles durante a 2ª Guerra Mundial e que teve seis mortos — três por estilhaços e três por ataque cardíaco. A razão para tal classificação é sua estranheza; afinal, nenhum dos inimigos foi visto pessoal ou fisicamente e nem foi atingido. Hoje, passados exatos 70 anos, emerge a face cômica ou paranóica do episódio. O episódio: a Batalha de Los Angeles foi um incidente ocorrido na noite de 24 para 25 de fevereiro de 1942 quando forças militares dos Estados Unidos abriram fogo contra objetos voadores. Não se sabia o que eram. Os EUA estavam em guerra, temerosos de um ataque japonês à costa oeste e a paranoia grassava.
E era compreensível. O ataque de surpresa à base naval de Pearl Harbor, no Havaí, ocorrera há menos de três meses, em 7 de dezembro de 1941, e os norte-americanos estavam em alerta, aguardando um novo ataque.
Mas não havia somente o receio de um ataque japonês pela costa do Pacífico. A população tinha também extremo temor de extra-terrestres. Fazia menos de quatro anos que o cineasta e ator Orson Welles transmitira na rádio da CBS — em outubro de 1938 — uma adaptação de A Guerra dos Mundos, obra de ficção científica de H.G. Wells, escrita em 1898. Welles colocou ruídos estranhos seguidos de sua voz, empostada e calculadamente amendrontada, narrando uma invasão de Marte a nosso planeta. Eles, os marcianos, estariam em batalha com a polícia em Grovers Hill, local próximo a Nova Iorque. Welles anunciou um número incerto de mortes. Em Nova York, quartéis dos bombeiros, postos policiais, hospitais e redações de jornais foram invadidos por multidões. As pessoas estavam apavoradas. O rádio exercia grande influência na população e todos acreditaram na invasão por visitantes hostis, talvez verdes. Várias pessoas se jogaram de janelas, mas também foram explorados outros gêneros de suicídios. Outras, simplesmente saíram histéricas pelas ruas. Para piorar, Welles pôs no ar uma declaração fictícia do secretário do Interior sugerindo que as pessoas deveriam sacrificar suas próprias existências a fim de fazer prevalecer a vida humana na Terra. Passados alguns minutos, Welles retornou anunciando que os monstros estavam próximos de Nova York.
Menos de quatro anos depois, em Los Angeles, o rádio nem precisou divulgar o fato. Bastaram algumas luzes no céu e 100.000 pessoas foram às ruas e 1400 mísseis antiaéreos do exército americano foram disparados. Nada foi atingido.
E era compreensível. O ataque de surpresa à base naval de Pearl Harbor, no Havaí, ocorrera há menos de três meses, em 7 de dezembro de 1941, e os norte-americanos estavam em alerta, aguardando um novo ataque.
Mas não havia somente o receio de um ataque japonês pela costa do Pacífico. A população tinha também extremo temor de extra-terrestres. Fazia menos de quatro anos que o cineasta e ator Orson Welles transmitira na rádio da CBS — em outubro de 1938 — uma adaptação de A Guerra dos Mundos, obra de ficção científica de H.G. Wells, escrita em 1898. Welles colocou ruídos estranhos seguidos de sua voz, empostada e calculadamente amendrontada, narrando uma invasão de Marte a nosso planeta. Eles, os marcianos, estariam em batalha com a polícia em Grovers Hill, local próximo a Nova Iorque. Welles anunciou um número incerto de mortes. Em Nova York, quartéis dos bombeiros, postos policiais, hospitais e redações de jornais foram invadidos por multidões. As pessoas estavam apavoradas. O rádio exercia grande influência na população e todos acreditaram na invasão por visitantes hostis, talvez verdes. Várias pessoas se jogaram de janelas, mas também foram explorados outros gêneros de suicídios. Outras, simplesmente saíram histéricas pelas ruas. Para piorar, Welles pôs no ar uma declaração fictícia do secretário do Interior sugerindo que as pessoas deveriam sacrificar suas próprias existências a fim de fazer prevalecer a vida humana na Terra. Passados alguns minutos, Welles retornou anunciando que os monstros estavam próximos de Nova York.
Menos de quatro anos depois, em Los Angeles, o rádio nem precisou divulgar o fato. Bastaram algumas luzes no céu e 100.000 pessoas foram às ruas e 1400 mísseis antiaéreos do exército americano foram disparados. Nada foi atingido.
A Wikipedia contribui para o humor involuntário ao estampar a seguinte
explicação: “Esse caso, possivelmente, foi apenas uma confusão
relacionada com a psicose da iminência de ataques japoneses sobre o
país, o que gerou grande confusão à época e fez com que entusiastas da
ufologia posteriormente, o adotassem como caso ufológico genuíno”. A
psicose é um quadro psicopatológico clássico, reconhecido pela
psiquiatria, pela psicologia clínica e pela psicanálise como um estado
psíquico no qual se verifica certa “perda de contato com a realidade”.
A Batalha
Quem não estava na rua foi acordado pelas
sirenes e disparos. Toda a força bélica e os milhares de soldados
envolvidos foram inúteis, tudo o que caiu do céu foi aquilo que foi
lançado aos ares pela defesa norte-americana. Além dos três mortos,
vários automóveis e residências foram danificadas por estilhaços. As
autoridades militares não sabiam o que informar à população. As
declarações eram bem mais conflitantes do que as da dupla Welles-Wells.
Dias depois, não havia mais estimativas confiáveis sobre o número de
objetos vistos no céu. Algumas pessoas diziam que era um único objeto
que voava a 300 Km por hora. Outros afirmaram que eram vários objetos
luminosos. Houve quem afirmasse ter visto esquadrilhas com objetos de
tamanhos variados. Tornou-se impossível separar os relatos verídicos das
afirmações embaladas pela histeria daqueles dias. Então os militares
passaram a negar o ocorrido. Impossível. Sob a a expectativa geral, o
então secretário da Marinha, Frank Knox, convocou uma coletiva de
imprensa onde afirmou que tudo fora causado por um alarme falso,
certamente fruto da tensão da guerra, contudo…
… no editorial do Long Beach Independent, estampava-se a desconfiança:
“Existe uma misteriosa reticência envolvendo o assunto e parece haver
alguma censura que está tentando impedir as discussões sobre o fato”.
Então, após inúmeras contradições, os militares afirmaram que se tratava
de uma exótica operação japonesa, realizada através de aviões que
tinham como base um submarino capaz de transportar um (1) caça (imagem abaixo),
e que tinham o objetivo de causar medo e atingir o moral dos EUA
durante a guerra. Impossível encerrar a questão deste modo. Foi criada
uma ficção de apoio: houvera também um ataque de um submarino em 23 de
fevereiro a instalações de armazenamento de óleo nas proximidades de
Santa Bárbara (litoral da Califórnia), o que comprovaria a presença
japonesa. Mas também isto logo foi negado. Nada justificaria uma ação
desta natureza, em território inimigo, sem qualquer tipo de auxílio
próximo — o mar de Los Angeles estava lotado de navios americanos — e
sem que existisse qualquer “benefício” imediato. Pensou-se também em
balões japoneses que trariam cargas explosivas. Só que um balão seria
facilmente atingido e nada caiu, nem foi destruído. Onde estavam os
destroços?
A “explicação”
Hoje, os ufólogos tomaram o caso para si. Se não foram aviões nem balões, certamente foi um foo fighter.
Tal termo era utilizado por aviadores durante a Segunda Guerra Mundial
para descrever fenômenos aéreos misteriosos, considerados OVNIs por
eles. O(s) galhofeiro(s) objeto(s) que se desv(iou)(aram) da artilharia
norte-americana, negando-se a cair, teria(m) criado “as políticas de
acobertamento” de OVNIs, das quais os ufólogos tanto se ressentem.
Entrevistado pelo Sul21, o psiquiatra e psicanalista
Cláudio Costa interpreta o fato do ponto de vista comportamental: “A
Batalha de Los Angeles é interessantíssima por envolver três mecanismos
distintos. Em primeiro lugar, houve o efeito do medo sobre o
comportamento da massa — Pearl Harbor tinha acontecido há menos de três
meses. A massa obedece as leis do inconsciente, age por impulso, sem
lógica ou cronologia, por impulso, sem racionalidade, sem pensar nas
consequências e inteiramente contaminada por emoções. A surpresa é que o
próprio Exército agiu da mesma forma. Sabe-se que o medo se expressa
pela fuga ou pela luta. O povo poderia optar pela fuga descontrolada,
mas um exército tinha que lutar, ainda mais que estava fortemente
armado. O segundo mecanismo foi a denegação do fato, ou seja,
eles não apenas queriam negar que bombardearam um inimigo provavelmente
inexistente, mas apagar o acontecido e, principalmente, o que tinham
visto. Tentavam fazer valer a lei do ‘não há documento, não houve o
fato’, apesar do que todos tinham vivenciado e fotografado. E o terceiro
é a criação do mito dos discos voadores, que é a tentativa de explicar
algo inexplicável”.